Como o Brasil entende os termos Crescimento e Estabilidade

Atualizado em 21/10/2020 14:51 por Éter 7 News

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* Por Igor Lucena

No ano de 1776, o economista britânico Adam Smith lançava um livro que se tornaria um clássico mundial conhecido como ”A Riqueza das Nações”. O livro demonstra, em cinco partes, um conjunto de teorias sobre como as nações evoluíam sob o ponto de vista econômico e social. Neste contexto, podemos dizer que seu livro foi uma descrição das origens e até mesmo um guia de como os governantes deveriam tratar o Estado; não é à toa que o nome completo de sua obra é “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações“.

Em seus textos, nas entrelinhas, há uma suposição de que isso é fundamental nos dias de hoje, e talvez seja por isso que essa obra seja considerada um clássico, pois, apesar de séculos terem se passado, o conjunto da teoria é útil e atual. A suposição básica é referente à estabilidade política. Mas o que é, no século XXI, estabilidade política?

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Uma nação com estabilidade política é aquela em que a política nacional é muito previsível, por exemplo, como é o caso da Coreia do Norte, em que há uma ditadura totalitária extremamente opressiva que foi, e ainda é, governada pela mesma família por gerações. Não há dúvidas sobre quem está no comando do país, ou mesmo quem estará comandando no futuro próximo, ou a cujas ordens todos deverão obedecer em um sistema como esse. Por outro lado, a estabilidade política também está presente em países onde existe uma democracia segura, pacífica e contínua por séculos, como ocorre com os Estados Unidos, o Canadá ou o Reino Unido, que são nações muito estáveis, já que sua história e seu conjunto de regras e de leis ajudam a promover uma importante reverência pública por respeitar as tradições das eleições e resolução de disputas políticas dentro das regras e dos acordos bem compreendidos a partir das suas Constituições.

Às vezes, uma ditadura totalitária não tem um plano de sucessão claro. Às vezes, uma democracia estabelecida há muito tempo é confrontada com uma “crise constitucional” que introduz um problema para o qual não existe uma tradição já estabelecida e, às vezes, as nações têm sua estabilidade ameaçada por outros elementos como guerras ou, no nosso caso, pandemias que ameaçam a ordem política, jurídica e econômica, indiscriminadamente. 

Democracias liberais bem estabelecidas como as da França, Alemanha e Itália firmaram-se em um modelo de união nacional em que a política fiscal, monetária e as disputas de poder se uniram com o escopo de manter a estabilidade nacional e a defesa de um modo de vida e de organização social que vem desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Nações Totalitárias e democracias iliberais como a China, os Emirados Árabes Unidos ou a Rússia se fecharam em torno de seus líderes políticos e de sua elite econômica com o objetivo de manter, a todo custo, o status quo da sociedade, e isso ocorre necessariamente para manter a melhora da qualidade de vida da sua população. 

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Não importa o regime político. A palavra de ordem é estabilidade, pois é dela que se garante o investimento privado das empresas nacionais ao mesmo tempo em que também influi diretamente para a atração do investimento internacional. É a estabilidade política e econômica que garante o controle da inflação e gera garantias para a população consumir e contrair dívidas de longo prazo, como, por exemplo, automóveis e imóveis. É a estabilidade que garante a expansão do crédito no mercado financeiro para as empresas. É a estabilidade que garante a liquidez dos títulos da dívida nos mercados internacionais, e é ela a base fundamental do crescimento econômico. 

Em termos práticos, o Brasil carece de estabilidade em muitos planos. Quem tem razão sobre o coronavírus? Qual o plano correto de reabertura das empresas? Vamos seguir um plano liberal na economia ou vamos fazer o Pró-Brasil? A política do Auxílio Emergencial e do Apoio ao Emprego serão pagas com reservas internacionais, impressão de dinheiro ou com mais dívida? As privatizações acabaram? A China é inimiga do Brasil?  

Crescimento econômico é a base para o desenvolvimento econômico e consequentemente para a diminuição da pobreza, o que significa melhora nas condições de vida e no consumo da população, o que gera de fato a Riqueza das Nações. O Brasil infelizmente está longe da estabilidade, e o ano de 2020 vem mostrando que o longo prazo em nosso país é pouco mais de um mês. Ou o país passa a entender a estabilidade como algo fundamental ou estaremos caminhando para mais uma década perdida. 

* Igor Macedo de Lucena é economista e empresário, Doutorando em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, membro da Chatham House – The Royal Institute of International Affairs e da Associação Portuguesa de Ciência Política

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